PALÁCIO DA VERDADE
PALÁCIO DA VERDADE
Marcos Bilac
Abraçam as verdades lançadas em um pequeno livro
Para o mundo real e verdadeiro para um povo cego
Mas tudo se faz nas vozes de pessoas improvisadas
Falando de um passado real e natural
Para alimentar o dia de hoje e mostrar a realidade.
Existem no palco pessoas disfarçadas
Em tempo antigo e com vestes envelhecidas
Para acordar uma gente que nem imagina
O que está por vir e nem por conhecer.
Eles tentam passar a dor e angústias
De uma época de escravidão e miséria
Quando alimentavam a ganância e a violência
E mostravam a fome e a dor no olhar
Da inocência conhecida como gente.
Acendam velas de gente vivas, por enquanto,
Matam sem pudor uma gente sem documento
E provam que a lei é apenas papéis valiosos
E que podem mudar quando quiserem.
Assim voltam ao tempo em falas
Em um pequeno palco de pobreza
Falindo a realidade nua e crua
A um povo novo sem carência
E pensam que tudo podem mudar.
Afinal estão fazendo parte de um novo livro
Ainda não escrito por vez nessa época,
Pois infelizmente ainda existe a escravidão
E a proibição de pensar e fazer sem ter medo.
Enquanto pessoas nadarem em mares de pobreza
Existirá um oceano de pessoas podres e pobres
Numa terra falida pela ignorância do saber
E pela ignorância do escrever.
Mas, por vez, existem escolas brancas e pretas
Existem aulas de literatura morta por nós
E a língua de um português falido
Que muitas vezes confundem os pálidos.
Agora ouça as vozes decoradas e interpretadas
De uma nação sem educação por fim
E aceite cada grito escrito por um ser morto,
Pois assistiu, em sua janela, a tanta falência
E sonhou que ia mudar essa velha vida
E trazer pro nosso olhar prudente.
Quero aprender a ler e escrever hoje,
Sempre ouvi a indagação de uma gente pobre
Não por as letras de livros bonitos
E sim por não ter tempo de aprender.
Uma gente que acorda bem cedo pra ser escravo
Dentro de um cortiço construído pelas mãos da cegueira
De uma gente que ainda vive um tempo velho
E nem se quer, se importa com pobreza.
Sentado na primeira fila de um império brilhoso
Eu assistia a realidade vista em um palco morto,
Por pessoas assassinadas pela ganância,
Pois existem tesouros maiores do que a vida?
Fico por lá algumas horas, em lágrimas,
Por recordar que nada mudou hoje
E o ontem continua no presente vivo
E que pessoas ainda vivem em cortiços,
Levando as vidas no pobre varal.
Saibam que ainda posso assistir, todos os dias,
Aquele dia de interpretação e improvisação,
Nas ruas de minha cidade nova e rica
Que está lotando pessoas sem crença.
Peço aos seres humanos que leiam nos sorrisos cansados
De uma gente sofrida e marcada pelo tempo perdido,
Por estarem jogados num asfalto quente e frio
Esperando conhecer a cara da morte,
Pois é o que resta pra essa gente esquecida.
Se quiserem assistir aos verdadeiros interpretes?
Ande pelas ruas a busca da violência e da amargura.
Vocês verão que existem artistas para conhecerem,
Que seus valores foram roubados por todos
Os homens de pretos fardados e armados.
Depois vá para os palácios bilionários,
Revejam as situações naturais e reais,
E comparam com a morada dessa gente
Que nem se quer vale sofrer por muito,
Pois a morte lhe visita todo anoitecer.
Apanhe um pedaço de alegria e coragem
E leve nas mãos de raízes dessa gente
E faça morada a fome mais rara
Não os deixando passar pela ponte
Ao encontro do sorridente terror.
Pois chorei pra morte nessa noite
E fiz, tive a minha sorte da alegria,
Por alguns segundos profundos,
Vendo tanta gente com sorrisos vazios.
Não se importando com o verde nos sorrisos
Eu não quero ser escravo dessa nação podre
É por isso que alimento os sonhos de todos
Ofertando um pouco de minha felicidade
A um povo sofrido e maltratado.
Sendo realizado um pedaço de pão
Valorizando cada cidadão no chão,
Pois as ruas são as casas desses moradores
E o céu é a única beleza conhecida.
Tenho algo pra contar agora:
O palco da verdade é a morada deles,
E eles são personagens de um espetáculo
Que nunca acaba no olhar de um público.