INFÂNCIA NA FAZENDA

Ah velhos tempos que nunca esqueci

Onde feliz eu vivi

Desde os tempos de criança

Era uma fazenda de mata escura

Onde sempre tinha fartura

E uma bela vizinhança.

Pra mim poucas pessoas iguais àquelas existiam

Por que em nenhum momento sequer eles esqueciam ninguém

Em tudo que fazíamos tinha união

E naquela região todo mundo vivia de bem.

Eu morava na cidade

Levava muita saudade

E trazia as mesmas de nós

E mesmo longe de pensar no meu futuro

Eu só conseguia me sentir seguro

Estando perto dos meus pais ou dos meus avós.

Eles moravam naquela fazenda

Onde criavam sua própria renda

Que sempre vinha a calhar

Eu estudava na cidade

E mamãe com aquela sinceridade

Pra poder deixar

Sempre me pedia uma nota bacana

E com ansiedade eu esperava

Chegar o final de semana

Pra que eu pudesse ir passear.

Saia correndo pra guarita

Onde naquele tempo cata nica

Era algo fácil de pegar

Entrava nele disparado,

E por eu ser acostumado

Eles já sabiam onde me soltar

E enquanto eu viajava

A minha mãe já ligava

Pra minha avó ir me pegar

No ônibus eu sempre olhava da janela

Esperando apontar a cancela

Pra eu poder acenar

E de longe ela já me avistava

E no meu canto eu ficava

Esperando ela vim me buscar

Ali era meu paraíso de felicidade

Onde eu brincava a vontade

Sem ninguém me incomodar

Onde eu sempre passava as férias da escola

O tempo todo jogava bola

E saia pra passear

Um lugar que não me despertava medo

Preferia deixar um brinquedo

Pra poder caminhar

Corria e andava sobre os matos,

Brincava com cães e gatos

Com muita energia pra gastar

Gritava qualquer pessoa que passasse sobre aquele asfalto

Em tom baixo ou tom alto

Sem nem mesmo me preocupar

O que eu fazia ninguém colocava defeito

Aprendi muito cedo a ter respeito

E de cada um eu já sabia o jeito certo de tratar.

Costumava levantar bem cedinho

Tomava aquele cafezinho

E saia correndo pro curral

Ficava detrás de uma coluna

Esperando meu avô me dar à espuma

Do leite que a gente fazia o mingau

Tem dias que eu perseguia o meu avô o dia inteiro,

Sempre tentando dá uma de vaqueiro,

Mas como ele eu nunca conseguia fazer igual

Olhava na janela da varanda,

E quando ele sumia na manga

Montado naquele animal

Eu colocava meu estilingue na gibeira

E saia correndo pra porteira

Esperando ele voltar pra dá o sinal.

E quando ele começava acenar

Eu abria a porteira pra boiada passar

E começava a tocar com um galho na mão

E mesmo no seu momento de luta,

Com sua paciência ele me montava na garupa

E me dava o seu garruchão

E enquanto eu tocava e gritava aquela boiada

Minha avó de longe avistava

Minha grande animação

Mas apesar de eu divertir demais

Eu me lembrava dos meus pais

E ás vezes eu pensava em voltar

Mas pra esquecer aquele vazio

Eu e meus avós sempre íamos pro rio

Pra gente poder pescar

Lá eu conseguia-me distrair

Mas a saudade nunca que queria sair

E a tristeza sempre fez questão de entrar

E quanto àquela fartura

Goiabada, geleia, cocada e rapadura

Era a nossa grande sobremesa,

Tinha pamonha, bolo e biscoito de merenda,

Pois naquela fazenda

Nada nunca faltava na nossa mesa,

E pra venda, doce de leite, licor de jenipapo,

O requeijão e o queijo

A gente ia vender na cidade

E pra completar a variedade

Minha avó fazia o iogurte pra matar o nosso desejo.

Para animar mais minha diversão

Chegava à filha do patrão

Pra gente poder brincar

Tudo que eu ganhava eu compartilhava com ela,

E antes de chegar,

Ao mesmo tempo em que ela esperava

Apontar alguém na cancela,

Eu esperava mais ainda ela poder acenar...

E a pedido dos meus avós e a pedido de quem me pedia

Sair da sede eu só podia se a gente voltasse,

Sempre brincávamos juntos

Criávamos milhões de assuntos

E não tinha nada nesse mundo que faltasse.

E o nosso cachorro que Deus o tenha,

Que com a gente pegava lenha

Pra poder queimar

Até hoje me lembro dele ao olhar pro rio

Que já viciado em meu assovio

Ele já sabia que íamos caçar.

Quando olho pro Rio Jequitinhonha,

Nunca tive a vergonha de um dia poder falar

Por que até hoje não posso apagar

Essas mágoas que me consomem,

Era um cachorro valente

Esperto por saber, considerado como um parente,

Forte por crescer

E pra gente não tinha outro cão pra ser

O melhor amigo do homem.

Certas vezes eu deitava nas folheiras

Debaixo das bananeiras

E dos pés de laranjais

E naquela minha mente inocente

Eu pensava infelizmente

Um dia não poder ficar mais

Deixar tudo de lado

Abandonar aquele lugar encantado

E um dia voltar pros meus pais.

Mas um dia veio o destino sombrio

Esperando eu chegar do rio

Avistei de longe minha avó me chamar:

Meu filho cuidado pra você não cair venha rápido até aqui

Pois eu e seu avô temos algo pra te contar.

Depois de matar bem a minha sede

Ao chegar vi meu avô sentado na rede

E minha avó na sala de estar

Num canto as bolsas amarradas

As malas de roupas arrumadas

E um caminhão que tinha acabado de chegar

Antes que alguém me dissesse

Eu logo pude imaginar

Que o que eu pensava um dia acontecer

Tinha acabado de se realizar

O pranto escorreu no meu rosto

Eu não conseguir me segurar

Foi quando minha avó olhou nos meus olhos e disse:

Filho nós vamos ter que ir embora deste lugar...

Sempre agradeci a Deus pelo jeito que sou

Mas por condições de saúde do seu avô

Ele não tem mais forças pra trabalhar

Suou até demais por nós

Mas teve que se aposentar

Cansou muito meu pobre velho

Mas agora é hora dele descansar...

Mas pode ficar calmo

Você não precisa mais chorar

Vamos continuar juntos

E você não tem que se preocupar

Mesmo sem observar que o tempo passa depressa

Vou cumprir com uma promessa

Que bem antes resolvi honrar

Que se um dia eu fosse embora desta fazenda

Sem você não íamos ficar

Vamos mudar pra cidade

Mas manter a saudade

Do encanto deste lugar.

Ao entrar naquele caminhão

Olhando praquele pedaço de chão

Ao qual nunca mais ia me divertir

O paraíso que eu costumava ficar

Sendo ele o único lugar que eu tinha pra sair.

Chorando e sentindo falta

Daquelas árvores altas

De uma vista sumida

E antes de ver meu avô sentado naquela rede

Entendi que o rio quis matar minha sede

Como despedida.

Ao fechar aquela porteira,

A pancada da madeira

Machucou meu coração,

Vendo que ninguém mais ia me esperar,

Nem tão pouco me avistar desde então.

Mas chegou o dia em que eu cresci

Criei sonhos pra poder seguir

E caminhos pra levar a vida

Atrás de uma sina diferente

E prometendo dali pra frente

Nunca esquecer aquela partida.

Um dia ao ter me encontrado com aquela vizinhança

Que quando eu era criança

De braços abertos sempre me receberam

Também os recebi por ser um povo de paz

E mesmo que virei um rapaz

Eles nunca me esqueceram

Assim como eu, lá todos eles cresceram,

E muito mais crescerão,

E de cada pessoa que viver

Naquele pedaço de chão,

Vai carregar contigo uma história

Que sempre vai ficar na memória

E honrar qualquer geração.

Passe o tempo que passar

Hoje todos nós que vivemos lá

Somos “Símbolos da Confiança”

Esse era o nome daquela fazenda

E não tem ninguém que se arrependa

De ter passado lá a sua infância

Eu fui um símbolo daquele povo

E se um dia alguém perguntar da minha infância de novo

Conto com maior orgulho e confiança

Ah velhos tempos que nunca esqueci,

Onde feliz eu vivi desde os tempos de criança.

Bibliografia

Imaginação Real. (11 de Setembro de 2010). Infância na Fazenda. Almenara, Minas Gerais, Brasil.