Silentium
Há alguns anos atrás,
à noite, quando costumava
caminhar pela praia,
acompanhando o vôo solitário
e irreverente de algumas gaivotas,
descobri o silêncio do mar...
As ondas se encontravam lá adiante
e, juntas, vinham
e se debruçavam sobre a areia,
sem alardes, somente produzindo
uma suave exclamação de alegria!
E, depois... o silêncio!
Profundo, interminável...
até o outro momento,
com uma nova exclamação!
Eu fechava os olhos e
acompanhava aquele silêncio
até ouvir outra vez
o som das ondas abraçando a areia...
Passei a prestar mais atenção
naquele intervalo, no silêncio,
ele me fazia muito bem.
Após a chuva, agora,
nestes últimos dias,
saí para caminhar um pouco pela rua, à noite.
Havia uma quietude gigante!
Nenhum som.
Eu olhava e admirava o contorno
dos morros, das árvores que
sobressaíam na escuridão.
Era realmente algo majestoso!
O silêncio era de reverência,
dignidade e beleza permeando
e preenchendo de significados.
De repente foi quebrado
por uma cantoria intensa de sapos!
Sons em vários tons,
harmonia e duração.
E, então, silêncio outra vez...
longos e profundos momentos de
silêncio, quando podia perceber, sentir
que algo se processava ali...
até a cantoria reiniciar!
Então compreendi,
de um outro jeito,
o que já sabia sobre
a importância
do silêncio, da distância,
do intervalo, dos hiatos...
entre uma respiração e outra,
um encontro e outro,
uma decisão, escolha e outra,
um sonho e outro,
um trabalho e outro,
uma criação e outra,
uma tentativa e outra...
Nestes hiatos e distanciamentos
é possível avaliar
o conteúdo, a profundidade
do que é real e essencial.
Aquilo que é supérfluo e ilusório
ao menor distanciamento se dissipa;
mas o que é verdadeiro,
se organiza e fortalece
na distância e na falta
e, está sempre lá, no horizonte,
sinalizando o caminho.