Os patinhos feios
Ah, esse olhar superficial e fajuto
Que armazena realidades voláteis;
Separando o plantio do devido fruto,
Pensa que corre água pelo gasoduto,
E que as coisas abstratas são táteis...
Isso de ver as ondas e pensar o mar,
Desconsiderando o sopro dos ventos;
Que de hora pra outra podem parar,
Trazendo a calmaria ao revolto lugar,
Igual se dá, no mar dos pensamentos...
Assim, inteiro não se tem, tendo tomos,
Como a planta é bem mais que os ramos;
Mesmo os cítricos se partem em gomos,
Então, não raro pensamos que somos,
Quando, na verdade, apenas estamos...
Eterno enquanto dure, definiu o poeta,
Que aprendeu o ser, da circunstância;
O vigor do corpo tem prazo, fim, meta,
E até a efêmera carreira de um atleta,
Finda mesmo que alma guarde sua ânsia...
O amor deriva além do corpo, da alma,
Que, biodegradável resiste os maus dias;
Mas, a paixão caduca como flor de palma,
Amor não se apressa, sua carreira é calma,
Mesmo se um não, vem, por avessas vias...
Amor compreende até os imperfeitos atos,
Passa sobre fumaça, rejeição, sem que tisne;
Deixa que ilusões alheias quebrem os pratos,
Sabe, como na fábula que a objeção dos patos,
É só o disfarce imperfeito da sua glória de cisne...