Farnel
Às vezes deixamos afazeres à margem,
Dando vazão a anseios que emergem;
Embora não se possa achar ideia virgem,
Vá saber! Quiçá uns doidos inda forjem,
enfim, tem hora que outras coisas urgem...
o pão do corpo adormecido a varanda,
e alma raquítica suplicando a merenda;
coração colocando a razão na berlinda;
não careço cateter, para quê a sonda?
O legado ao primeiro, se dê à segunda...
Nem só de pão o homem vive, é claro,
Dito da Bíblia, confirmado pelo clero;
Poesia, saibam, é o pão que ora refiro,
Psique também carece transpirar o poro,
Com um parco farnel, então, a procuro...
E a alma comendo que fica bem “sarada”
Amealhando apreços em sua bela vereda;
Pois, faz cicatrizarem até imensas feridas,
Capaz de verter até um velório em bodas,
Sonegar seu pão e trair, e eu não sou judas...
Agora que saciado em ambos os lugares,
Descanso como quem cumpre os deveres;
Na saciedade plena desses dois sentires,
Me perco quase que, confundindo sabores,
A digestão? São outros que fazem alhures...