O passo do gado
Nos amplos prados da vida extensa,
Onde todo o tempo espraia sua lona;
Alma escolhe ao quê, estar propensa,
Afinal, dispondo dessa riqueza imensa,
Esbanja pródiga, a descuidada dona...
Nos íngremes montes da luta intensa,
Qualquer pausa põe em risco a escalada;
E quando a subida vale, nos compensa,
Dado, o rolo do relógio com sua prensa,
deixamos supérfluos, refazemos a estrada...
Acho que assim pontuo a sina, o problema,
Porquê, o sonhador cede espaço ao prático;
circunstâncias que forjam novo emblema,
aí, plantar flores, ou, escrever um poema,
são furtos do poeta ao homem pragmático...
não defendo essa ou aquela; certo, errado,
cada um voa com as asas das quais dispõe;
Quem é feliz? O sonhador ou, o atarefado?
Não sei; acho sábio seguir o passo do gado,
E viver o melhor possível, como o Fado propõe...