A nuvem
No mural de exibir solícitas carências,
De pendurar umas parciais tendências,
Não sei se exibo algo, quiçá, penduro;
Vejo melindres do fedelho que já fui,
Tipo, não critica jamais, aceita ou exclui,
Homens inconclusos e o tempo maduro...
Vai ver, outro que enxerga mais que eu,
Contempla minha nudez, presto percebeu,
Embora me presuma de olhos vigorosos;
Talvez tropece igual em pedras como estas,
Tendo uma vida pra aparar nossas arestas,
E eis-nos pontiagudos, avessos, angulosos...
Nossa presunção cantada em prosa e verso,
Pretensos senhores desse vasto universo,
Não obstante, sermos um montinho de pó;
Nossos vícios mal disfarçados nas falas,
os pobres anjos que suportam essas malas,
põem no chinelo a proverbial paciência de Jó...
a cumplicidade tácita desse baile de máscaras,
se espalha qual avalanche; em célere diáspora,
e quem mostra a cara é um estranho, desafina;
não digo que conhecendo-nos prefiro os bichos,
mas, ao grassarem fúteis, superficiais caprichos,
uma nuvem cobre o límpido céu de minha retina...