DESPREZO DE SIMPLICIDADE
Como sempre havia um público,
Surgiam feito à pressa
E saiam feito à demora;
Logo fazia aquele alvoroço,
Pois ali avistavam um moço
Que sofria por ser simples demais,
Que só pensava em ir embora
E ficar perto dos seus pais.
No seu pescoço um cordão preto
de elástico
Que nem mesmo era corrente,
Na ponta uma pequena argola puída,
E a imagem de Nossa Senhora Aparecida
Que servia de pingente.
Ali ele aguentava desaforo,
Pois ali tinha quem usava ouro,
Pois ali tinha quem usava prata,
Hoje quem ali dava o desprezo,
Amanhã não mais ficou surpreso
Com essa tristeza que me mata
Me magoava eu ser uma ausência,
Me magoava não fazer falta,
Me maltratavam sem paciência,
Me insultavam em voz alta,
Fui como um objeto preso dentro de uma caixa,
Mas eles me disseram algo em voz baixa
E me chamaram lá num cantinho,
Disseram que sou a sorte do azar
E que sou uma estrada sem caminho
Que sou um poeta de agonia,
Que sou um mato com espinho,
E que ninguém nasceu pra viver só
Mas que eu nasci pra morrer sozinho.
(Kaique Vieira)