LINHAS MORTAS

Amanhã eu escrevo.

Não! Eu escrevo hoje!

O que?

Minhas memórias sólitas

Meus repetitivos pedidos de perdão

Minha decadência ainda jovem

Meus anseios, medos e sonhos.

Tudo se converte em entulho

Carcaça de projetos que não tem fim

Mas que terão fim

Antes mesmo de serem concretizados

Solapados pelas Ondas das Circunstâncias

No mar revolto da Realidade

Serão levados

Pela correnteza do Tempo

Ao Oceano das Desilusões

Até sucumbirem ao naufrágio

Barcaças sepultas no Abismo do Esquecimento

Cobertas por corais de Conformidade

Assim vão-se as aspirações

Mas as memórias ficam

Ficam em paz

Caladas

Até serem revolvidas

Como o caldo no fundo da panela com uma colher

E comecem a uivar

O canto dos fantasmas saudosistas

Ah se....

Ah se....

Mas não são!

Não foram!

E Nunca Serão!

O Passado?

Já passou!

E o Presente não mais o será!

O Futuro sempre imaginado

É um terreno que só a Deus pertence

Carregar pretéritos é um enorme fardo

Mas eu sou tolo o bastante para transportá-los

Sempre recusando a lançar sobre Ele

A minha ansiedade.

Cadáver insepulto

Solte-me!

Carne putrefata

Largue-me!

Por que o devoro?

Por que não me desembaraço?

Por que o aperto contra o peito ainda que exale morte?

Ilusão!

Ilusão!

Chega de ilusão!!!

Deixe que os mortos enterrem seus mortos!

Siga para a vida

Ou sua existência se consumirá

Em lembranças do que nunca foi

Sua essência será mais estéril do que o pó

E sua obra não falará mais

Que linhas mortas!

jafergomesferreira
Enviado por jafergomesferreira em 26/05/2015
Código do texto: T5255777
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