MANHÃ
De onde vens, cálida manhã.
Desvirginando em vívido raio de esperança o peito destroçado.
Entabulando um canto brando a seduzir sem pudores, laços atados em nó profundo.
Cuido de franzir a testa.
Cuido de fechar os olhos como a desistir da luz em pulso, atordoando, iluminando um parco sorriso de infortúnio, sonhos derramados.
Sinto saudades, água de alfazema, rosto colado, sussurro manso de segredos rebuscados.
Um breve momento de silêncio, um breve instante de paz.
Mais uma manhã de espelho sem imagem,
Mais um soluço sem choro, uma lágrima escorrendo autônoma, invisível.
De onde vens manhã.
Certamente é da escuridão, da insanidade da entrega.
De onde vens não se vê, não se enxerga.
De onde vens se mente, dissimula, palpita, destempera.
Haverei de perseguir o dia que se segue a ti.
Lá haverá, se não a paz, a certeza do enfrentamento do que se conhece, mede e pontua.
Uma luz na rua te anuncia se apagando.
Um sorriso teu persiste, vaso florido, flores viçosas, coloridas.
Uma manhã que acalma, desconfia da ingenuidade do que concluo
para ao fim te consumir em sonhos
Esperança de um dia, uma semana, uma era de brisa leve
Uma porta que se abre.
uma janela apenas bastaria.