SÍMBOLO DE UNIÃO
Símbolo de União.
Certo dia em que o sol estava baixo
E o calor queimando feita brasa,
Eu sair da minha casa
E fui ao centro da cidade,
Fui caminhar um pouco pra passar o tempo,
E ao observar o movimento
Notei uma curiosidade,
Avistei um grande círculo e tumulto de pessoas reclamando,
Pareciam até estar brigando
Ou fazendo alguma maldade.
Quando cheguei pra ver o que acontecia,
Desesperado, não acreditei no que via
Quando presenciei aquele momento
Momento que até hoje guardo na memória
E tenho o prazer de compartilhar essa história
Que jamais sai do meu pensamento
Era um dia de sexta-feira
Do lado de fora na fila de um banco,
Havia um velho de óculos escuros sentado num canto,
De cabeça baixa e com uma voz estremecida,
Ali quando cheguei mais perto,
Notei do seu lado uma sacola,
Uma placa pedindo esmola
E uma bengala meio apodrecida,
As unhas sujas de terra,
Sua pele bastante caída,
Um pedaço de jornal amassado,
E um copo de esmalte quebrado
Com apenas uma moeda vencida.
Além de reclamarem,
Ainda zombavam de alguém
Que pode ter sofrido muito nessa vida.
Assim que pedi pra deixarem ele em paz,
De repente chegou um rapaz
Que me fez mudar de foco.
Passou no meio daquela gente,
E depois de chegar a sua frente
Brutalmente chutou aquele copo
Dizendo ele que aquela moeda, foi ele quem a colocou,
Por que daquele tempo que passou
Ele ainda continuava a pedir esmola...
Que de muitos ele tinha receio,
Queria mesmo era ver o copo cheio,
Que nem se estivesse mesmo no meio
Ele jamais iria embora,
Que na verdade ia ficar ali o dia inteiro
Até que enchesse o seu copo ou a sua sacola,
Ainda assim ele disse que nem seu próprio pai
Que um dia ele abandonou
Que dava o maior trabalho fingindo ser cego que nem aquele velho,
E que de raiva quase ele o matou,
Preferiu nem sequer sujar suas mãos,
Por que sabe lá o que já o levou,
Nunca estaria naquela situação
Que o velho interpretava
Que aquilo era só uma cena,
Pra alguém ali poder ter pena
Por que nunca nada lhe faltava
E quando ia terminar sua atitude,
Ainda sim ele falou:
Saia daqui levante daí,
E vai arrumar um trabalho pro senhor.
E no momento dos olhos do pobre velho,
Uma lágrima rolou,
O velho levantou a cabeça e disse:
Rapaz, você está longe do que se foi,
E próximo do que se passou...
Através da sua atitude e humilho
Uma triste lembrança você me traz,
Ao pensar que tenho um filho
Que não sabe o que faz,
Sinto que ele está vivo,
Mas não sei se ele está em paz...
Hoje na mente dele deve se passar que ele perdeu os seus pais,
Estou aqui obrigado,
E por eu ser aleijado
Eu não posso andar mais.
Ajam forças que se possa,
Além de eu morar na roça
E passar por vários coques zais,
Paro no meio de movimentos,
E por ter perdido meus documentos,
Pagar passagem eu não sou capaz.
Longe daqui tenho minha casinha,
Já perdi meu pai e minha mãezinha
E hoje vivo sozinho,
Costumo comer o que acho pela frente,
E ao dizer de muita gente
Tenho alto colesterol,
Além deu ter sofrido muito nesse sol,
Não tenho ninguém pra me dar carinho.
Esse velho que todos humilham sempre chorou,
Por que meu filho me abandonou
E me deixou solitário,
E lá na minha casinha,
Não tenho quarto, minha caminha,
Minha sala, minha cozinha,
Minha sacola é que é meu armário.
Durmo em meu pedaço de rede,
Tenho um relógio de parede,
Mas não posso ver o horário,
Perdi minha visão cedo demais,
Queria um dia ler livros e jornais
Pro meu filho poder dormir,
Meu piso é a terra dura,
A minha porta não tem fechadura,
Tenho que encostar para sair.
A meu pedaço de chão sempre dei importância,
E meu filho depois da sua ignorância
Nunca mais me ajudou,
Fiz hortas e muitas plantações,
Mas mesmo com essas estações
Nunca e nada jamais brotou.
Alguns dizem ter pena de mim,
A terra onde moro é ruim
E muito pequenininha,
Meu corpo sempre foi manchado
E furado por espinhos,
E mesmo muito distante dos meus vizinhos,
Eles ainda me fazem uma gracinha.
Ando por essa estrada a fora,
Pego meu rumo e sem enxergar vou embora
Sempre rumando nos cantos e caindo,
Mas nunca deixei de acreditar,
Por que pra mim tudo o que Deus me dá será bem-vindo.
Mesmo cego casei muito novinho,
Tivemos esse filho que me deixou sozinho,
E que nunca por nada me agradeceu,
Minha mulher sempre teve muita fé e crença,
Mas devida a sua incurável doença,
Ela infelizmente faleceu...
Mas com esforço, qualquer ladeira que subo,
Incrivelmente eu desço,
Ninguém sabe do meu endereço
Pois sei que moro com Deus,
E meu filho, nunca mais me mostrou respeito,
Saiu de casa com destino a tomar jeito
E nunca mais apareceu.
E mesmo sem enxergar nada rapaz,
Agradeço pela moeda que me deu sem intuito,
Pode ser vencida pra você,
Mas pro meu sentimento valeu muito.
Um dia dei uma dessas ao meu filho,
Mas não sei se ele recebeu,
Não pude ver com meus próprios olhos,
Mas sei que ele não escondeu,
Não sinto a presença dela,
Mas sinto que ele cresceu.
Nesse momento mesmo se sentido indisposto,
O velho tirou os óculos do seu rosto
E logo depois se encolheu.
E ao ouvir aquela história,
O rapaz se comoveu,
No mesmo instante disse:
Velho, o seu filho está vivo,
E ele sempre quis te encontrar,
O mundo nos ensina a viver
E a vida nos ensina a perdoar...
Ela deu ao seu filho um motivo,
Pra ele nunca deixar de acreditar,
Que o senhor não teria morrido,
E isso ele acabou de confirmar,
Na vida eu auto me desafiei,
E pelo tempo que superei
Valeu a pena esperar,
Guardei essa moeda enquanto pude
E jamais imaginaria
Que um dia iria soltar,
Apesar da minha grosseria,
Alguma coisa me dizia
Que naquele dia eu devia guardar,
Mas se esse é o momento certo,
Eu faço questão de pegar...
E por favor, meu pai pare de chorar,
E me dê sua benção,
Ajoelho-me a tão preciso perdão,
Sei que sua voz é cortada pela emoção,
E quero agora suportar essa dor,
O senhor viveu tantos anos sem carinho,
E eu vivi os mesmos sem amor...
Na vida eu sempre subi sozinho
Acompanhado de uma depressão,
E isso jamais me deixou fazer questão
De procurar o senhor,
Mas não precisa mais se preocupar,
Comigo o senhor vai morar
E não precisa chorar mais não.
Não serei mais o mesmo de antes
A uma atitude sem coração,
Prometo te dá carinho
E tratar da sua visão,
Seguindo você por casar novinho, hoje tenho esposa,
E estudo aqui perto numa instituição,
Lá eu consegui aprender,
Como pessoas solitárias passam a conviver
Com a solidão,
Vai aproveitar pra dar um abraço no seu netinho,
Que já está bem grandinho
E está ficando um meninão.
O seu pai agradeceu a Deus por aquela realização,
E perdoando seu filho por tal situação
Todos em volta emocionaram,
Depois logo se desculparam
Por toda aquela reclamação.
Eles foram embora, alguns anos se passaram.
E tudo começou a mudar desde então,
O seu pai conheceu sua nova família
E logo recuperou sua visão,
Depois de olhos doados,
Ele pode enxergar mais que seu coração,
Podia olhar pra todos em sua volta
E sentir vista emoção,
Mas ao abrir os olhos e fixar seu olhar no rosto do filho
Uma inesperada aparição...
Ele estava com os olhos tampados
O pai não esperava a reação,
Perguntou o que tinha acontecido,
E o filho logo deu a explicação:
Pai receba este presente de coração,
Merecido pra alguém especial que ainda vive,
Por que de todos os desafios que eu tive
Esse eu fui mais que um campeão,
Posso ter perdido os meus olhos,
Mas ganhei mais felicidade,
Sabendo que fiz da necessidade,
O motivo dessa bela ocasião.
E quanto a essa moeda que comigo cresceu,
Que pra mim desde o dia em que o senhor me deu
Serviu-me de lição,
Será sempre guardada com carinho,
Sendo ela agora do seu netinho,
Que será o próximo guardião.
Depois disso, uns cuidam dos outros,
A vida continua e ninguém mais ficou sozinho,
E hoje, ah, hoje quando caminho,
Pra passar o tempo naquela rua,
Sempre levo uma moeda vencida na mão,
Pra recordar não só do que ganho na vida,
Mas do exemplo daquele perdão,
Que hoje podemos estar numa boa,
E talvez amanhã em outra situação,
E com falta de generosidade,
Ninguém alcança a felicidade
Com desprezo e humilhação,
Por que o que vale é o respeito,
E quem não vive desse jeito,
Pouco se ganha à consideração.
Termino essa triste história, que hoje ela é lembrada,
Como um exemplo de lição,
E que além daquela moeda,
Qualquer presente pode ser um símbolo de união.
Bibliografia
Imaginação Real. (06 de Outubro de 2010). Símbolo de União. Almenara, Minas Gerais, Brasil.