MEU SONHO ACABAOU
Não posso ouvir aquilo que quero e que gosto
Pois a jeito de ser deles é diferente do meu
E arrebentam-me os tímpanos
Com seus ruídos desconcertantes.
Estou perdendo meu sonho.
Estou perdendo meu sono.
Fico a ouvir o que não quero
Sonho em ter felicidade
Mas essa cidade
Destrói tudo em um passe de mágica
E eu fico a ver navios
Em pleno cerrado sem fim e sem pódio de chegada.
Aqui, agora, tento viver cambaleantemente,
Mas minha mente dá sinais de cansaço
E perco todos meus sonhos bons
Tornando-me um verdadeiro bagaço
Que nada mais pode fazer
Além de ter que se espatifar nesse espaço.
Estou aos pedaços.
Pedaços de bons tempos
Que ficaram no passado
E o presente é de grego
Que nada tem de importante,
Além de um triste horizonte
Que me carrega ao abismo
Sem que eu possa reclamar
Pois ninguém me chamou aqui,
Nesse insólito jeito de ser,
Agir e estar no mundo.
Meu sonho está acabando aos poucos
Meus tímpanos estão ficando roucos
De tanto ouvir o que não quero
De tanto gritar por socorros
Que não vem e por isto sou triste
Apesar de minha realização profissional,
Por aqui sou um estranho no ninho
Perco minha vida aos pouquinhos
Por que ruídos não são naturais...
A cultura é a do barulho.
O barulho é infernal.
Assim sigo minha triste sina
Sem poder reclamar da rotina
De ter que ouvir ruídos aos montes
Mesmo fora do período de carnaval.
E por falar em carnaval
Aqui a festa rola solta todos os dias
Têm-se bebidas em abundância
Têm-se comidas para encherem a pança,
Mas falta leitura de mundo e sua interpretação
Falta um olhar penetrante e mais agudo
Sobre tudo o que acontece no mundo,
Falta um pouco de educação,
E quem consegue enxergar um pouco mais
Vive sem um mínimo de paz
Nesse insólito vulcão.
Vulcão que queima os sonhos.
Vulcão que tira o sono.
Vulcão que destrói a vida
Nesse marasmo de se viver
Outro momento
Que não é tão bem assim.
Descarrego minha ira aos versos.
Verso para dizer minha ira.
Sou um trapo em tiras
Neste insólito universo.
Vou carregando o meu corpo pesado.
Meus passos estão ficando pesadões
Há em mim um sonho petrificado
Pensamento estandardizado,
Louco e enfeitiçado
Lutando contra as decepções,
Mas há forças ocultas tão presentes,
Que me matam de repente
E enchem-me de desilusões...
Cada dia é uma enormidade.
Cada mensagem, uma saudade,
Que percorre meu triste peito,
Deixando-me sem jeito
Neste chão sem piedade.
A mim não resta nada,
Além das tristes lamentações,
Fico em silêncio à beira da estrada
Amargando as grandes decepções
Por estar sempre sozinho
No meio dessa grande multidão
Que pensa que nem boiada
Deixando feito tonto na madrugada,
Sem dormir e sem pódio de chegada
Só vivendo de lamentações...
Araguaína – TO, 214.