Ode aos pobres
I
Os pobres gritam
A garganta em chamas
A injúria os arranca de suas camas
Com eles, alguns se revoltam.
A parcela injustiçada
Da felicidade, conhecem nada
Ou talvez muito pouco
A quantia de um louco.
Seus corpos costumavam jazer em valetas
Pouco mudou
Enquanto os ricos carregam suas maletas
Os pesantes fogem da praga que a vida toda os assolou.
Pobres desmamados
Seus governantes desmazelados
Com segredos selados
Fazem o povo ser enganado.
Cantando em delírio
Agora padece em seu martírio
Aquele que antes sorria
E que não sabe o que esperar do próximo dia.
Em tom de terror
Vai valsando a opressão
Os abastados fazem a repressão
A calamidade é seguida do temor.
Nas favelas e na marginalidade
O abuso do poder gera medo
Para o povo que acorda cedo
E que não sabe se escapará da barbaridade.
Uns seguem o dinheiro
Se contentam com o pouco que ganham
Levam a vida num bueiro
Agradecem enquanto se acanham.
Os ideais de liberdade se tornam meras utopias
Para gente que está acostumada à exploração
A extorsão é teoria de outras vias
Tudo por um tostão.
Enquanto exibe coisas que são apenas suas
Uns dormem no chão
Encontram abrigo nas ruas
Nada aquece o frio em seu coração.
II
Mazelas?
Ah, todas querelas
Invento político
Encômio acrítico.
Não existe pobreza!
Todos trabalham e têm seu sustento
Não seria isso riqueza?
Repito, é tudo um invento!
Mentiras, calúnias, os menos abastados logo irão enriquecer
Nossa sociedade é uma maravilha
Louvemos ao capital e ao poder
Para que é necessário mais partilha?
III
Precisaremos de mais mártires pra nação?
O mundo verá uma nova revolução?
Quem sabe a injustiça um dia terá fim
E o povo todo irá gritar, a uma só voz: a vitória, enfim!