Morrências
Morremos um pouquinho, é certo, a cada dia,
E morte fracionada se enfrenta sem o luto;
Na verdade, muitas vezes viça até a alegria,
Pois o devaneio disfarça, esse coveiro fajuto...
Nem sempre ante à morte assiste um covarde,
Às vezes, até ajudamos a acender a dinamite;
Contra uma doida ilusão que já morre tarde,
E não desejamos que nem Cristo a ressuscite...
Mas, há ilusões nas quais o coração embarca,
Resoluto, mesmo ante chance pífia, mui rasa;
Claro que a desilusão logo impõe a sua marca,
E morre até a pele debaixo do ferro em brasa...
Há mortes sazonais, mais, efêmeros sumiços,
Onde se apaga apenas o apêndice externo;
Como planta dormida que retoma seu viço,
Assim que guardada a espada fria do inverno...
Mortes que sabemos o motivo, não se exuma,
quantos menos lembrar, menor o sofrimento;
quando o próprio amor desaparece na bruma,
para ver se o amor próprio assume o assento.