Perdoai

Senhor, perdoai os poetas, os seres sem asas,

Mas que teimosos voam continuamente, belos;

Figuras precisas num mundo louco, dito, casa,

Talvez o olhar veria apenas cinza, sem tê-los...

Sei que muitos homens tem pedra no coração,

Desfazem, desdenham, chamam de loucura;

O que a alma recebe com carinho, a inspiração,

E devolve em forma de poesia, dose que cura...

Qualquer dor e inflamação, sim, já os perdoei,

Sei que esse dom, não foi agraciado por todos;

Mas cada dom é uma benção, apenas a tomei,

Revesti meus passos, mas não agrado o povo...

Que mora mais perto de mim, salvo um e outro,

Que vejo a sinceridade, uma palavra de carinho;

Que vem estampada, com um sorriso no rosto,

O resto chama de loucura o meu voar quietinho...

Sei que o céu é de todos os poetas que amam,

As letras, que escapam das mãos e do coração,

E sonham, viajam, esperam, amam e reclamam,

Respiram, por entre as horas a nobre inspiração...

Perdoai-me, quando cansada, quero dela esquecer,

E faço promessas vãs, que nunca mais vou escrever;

Mas a poesia está tatuada nessa alma, sem querer,

Vá, por onde for, em mim, sempre estará a viver.