Cupido das letras

Poemas nascem de lacunas e recheios,

Ora versamos o havido, outra, o anelado;

Assim, nesse mosaico de apreços, anseios,

Por qualquer motivo o poeta pega o arado...

Os melhores poemas escritos, entretanto,

São os que nascem no soturno vale da dor;

bem mais intensos, versos regados a pranto

como se tivesse também adubo, no regador...

uns dizem que um par de chifres faz um poeta,

porém, ao meu ver, tudo o que faz é um corno;

posto que pode também ser traído é um esteta,

capaz de usar as coisas feias como um adorno...

me pus extremado como o pendular balanço,

ora, ocorre que pode haver algo mais no meio;

tento entender, forcejo tanto que até canso,

para saber se saudade é lacuna, ou, recheio...

é lacuna, irmã da nostalgia, lapso, dirão logo,

se faz apenas de ausências o veneno da cobra;

não cogito os insumos, é contra o ser que jogo,

esse, feito de faltas é um alto monte que sobra...

em suma: Não dá para codificar o ser do poeta,

posto que se pode apreciar, se é ruim, ou, bom;

qualquer alvo pode ser perfeito para sua seta,

esse Cupido das letras não tem regras, só dom...