No escuro

Enquanto aparo arestas no escuro,

Procuro razões melhores que estas;

As frestas por onde espio o futuro,

Juro; mostram uma estação de festas...

Do presente fujo, pois, no devaneio,

Cheio está de controvérsias ardente;

Tente evitar a gota num copo cheio,

O freio dessa fria água é diferente...

Transborda então certo desalento,

Ao sonolento o sisudo fado acorda;

E a corda de amarrar o pensamento,

Ao tento solta e a saudade engorda...

Esperança dobra mangas, contraponto,

Conto com os encantos dessa criança;

Que mansa direciona o olhar a um ponto,

Pronto, eis a ilusão pronta para a dança...

Inspiração que não tem nada com isso,

Do viço de alento faz brotar uma canção;

O pão velho desse endurecido feitiço,

Vira noviço na senda da poética criação...

O muro esse que meio livres nos prende,

Pretendo o quê, que só nele esteja seguro?

Misturo fatos dos quais ele não entende,

Não acende a luz, sigo versando no escuro...