A recusa
Mesmo que minha pele enruguessa
E nem mesmo me reconheça...
Nunca ficarei velho.
Mesmo que fique careca
E me caia o ego e os dentes
Mesmo que fique doente
Sem esposa e parentes
Quase cego e impotente
Nunca vou ficar velho.
Mesmo que eu me aposente
Por invalidez ou velhice
E questione a nova onda dos jovens
Achando-a verdadeira chatice...
Mesmo que ande amparado por pessimismo e bengala
E já não tenha o controle dos nervos
Sentindo o fardo pesado da carcaça
E dos anos
Mesmo assim nunca vou ficar velho.
Mesmo que me chamem de vovô
E ajudem a atravessar a rua
Com a esclerose a me fazer esquecer
Do meu nome e onde moro
Em vaga lucidez, choro
Porém a vida continua
E continuo a dizer
Nunca vou ficar velho.
Nunca vou ficar velho...
Pois certa vez me disseram:
O corpo é quem padece
A alma se engrandece
E não envelhece jamais.