Contrastes

A vida, de contrastes, contraponto

migalhas restantes que são fartura,

um, desmedido vive errando, tonto,

outro, apenas ao essencial procura...

a vida, que de díspares não faz par,

dois ímpares, não há como se iguale;

o que quebra a quietude por quebrar,

e o que o faz, por ter algo que vale...

a vida e a discrepância até na mesa,

um plebeu, outro como majestade;

aquele mata fome em legítima defesa,

e esse, com requintes de crueldade...

a vida e seu mosaico de prazer e dor,

oscilando do oitenta até ao parco oito;

uns utópicos devaneando com amor,

outros céticos, satisfeitos com o coito...

a vida de comodismo e ímpeto, algum,

do que nos incomoda, ao que silencia;

esse sob a casamata do lugar comum,

e outro no campo aberto da ousadia...

a vida de pilotos e marujos na barca,

cada coração escolhe o seu tesouro;

uns laboram para imprimir sua marca,

outros, passivos emprestam o couro...

a vida e uma beldade linda, esperta,

que me acossa contra timidez, à guerra;

enquanto procuro azo e a palavra certa,

talvez, ela pense que meu silêncio erra...

quiçá o amanhã faça essa espera valer,

quando, enfim, for cambiada tal sorte;

bons e maus motivos muita força a fazer,

até perder o cabo de guerra pra morte...