O tempo e o amor

Estranha mutação o tempo arranja,

Tal, que o sim empresta lugar ao não;

E a acalentada metade da laranja,

De repente se torna só meio limão...

Ah os precipitados relinchos do potro,

O tempo se ocupa em revelar tal voz;

Nossa defesa desconhecendo o outro,

Para negarmos que não sabemos de nós...

a doença de ver toda a fruta num gomo,

Uma amarra insana que em pouco se solta;

Digo; mensurarmos o tempo num só tomo,

Aí, os fatos concorrem, e ele toma de volta...

A ausência de um porto no Mar Absoluto,

Enseja a deriva do caminhante que erra;

Pois, não poderia seguir andando enxuto,

Com um pé na água e o outro na terra...

Noutras palavras: Amor é mais que corpo,

Já que a esse, a mão do tempo macera;

Oferece, antes de buscar seu conforto,

E planta mui cioso, o que ceifar espera...

Amor verdadeiro é bugre de outra taba,

Cuja oca se ergue de estacas não frouxas;

Por Isso, disse Paulo: Amor jamais acaba,

Porém, engano costuma erguer as trouxas...