Espelho meu

A bela atriz,

envelhecida,

renegada e esquecida,

escreveu nesse poema

o amor que tem na vida.

Dos amigos que se foram,

dos amores que pensava;

das histórias esquecidas

nas lembranças embaçadas.

Quis ouvir de uma cigana

se o destino lhe restava,

e se viu como uma sombra

no espelho abandonada.

Foi então que escreveu

a mais linda das cantatas:

Ressurreição (soneto assombrado)

-abrem-se as cortinas-

-aplausos-

És a sombra maltrapilha

lambe o sol mas nunca brilha

não põe traços ao meu rosto

não tem gestos nem tem gosto.

És a sombra desenhada

na cortina da calçada

tira lascas de minh'alma

tanto acoça quanto acalma.

Como és sombra és de mentira

és do rifle a falsa mira

és da cor do falso amor.

Se hoje bailas no tablado

se recita-te ao meu lado

é que és sombra do que sou.

-aplausos-

__ ela se enxergava sombra, tinha ferrugens no espelho, mas hoje está curada.

__Comprou outro espelho?

__não, virou poeta.

[Suas sombras te acompanham assim como seus sorrisos. Basta saber o que você quer ver no espelho].