O eclipse

Aí o sol foi ficando moreno,

foi ficando pequeno,

e se mudou pra lua.

Aí nao tinha mais o dia,

nem existia a noite;

tinha o sereno queimando na pele.

Aí são Jorge ficou nu,

a primavera dava manga,

chovia margarida.

Então eu comprei um óculos de lua

e fui à praia vazia;

conheci tanta gente legal!

Mas de tanto calor,

a lua se cansou:

- Você tá me sufocando.

- És tão bela, pena que acordas a cada dia numa fase diferente.

E o sol decidiu se mudar.

Então a lua fez-se cheia, minguante, crescente,

se enfeitou de estrelas,

mas o amor ja tinha se partido.

Nessa partilha,

não se sabe ao certo

quem foi mais triste ou mais alegre.

Sabe-se que esse amor eterno

se acabou na primeira manhã minguante.

Vai ver que de certo na vida

sejam só as noites;

sejam só os dias;

mas se um eclipse te aparecer,

aproveita;

vai ver só vai acontecer de novo daqui a cem mil anos.

Vai ver o segredo do ser-pra-sempre

possa estar escondido

entre a humildade de nos reconhecermos frágeis

e a vaidade de sermos tão fortes

mas tão dependentes da felicidade.