Julgamento da vida

"O que sou senão milhões de sensações?

Sonhos que tive e não fui.

Vida que podia ter sido e não tive."

Não posso mover meus pés.

Não consigo dar algum passo.

Não vou a lugar nenhum.

Não posso.

Não quero andar por esse labirinto atroz.

Não quero viver de esquecimento e cegueira.

Não posso ver amores que vêm e vão.

No julgamento da vida,

Quem é culpado ou inocente?

Porque na mesma cova do tempo

Cai o castigo e o perdão.

Na mesma cova estão as palavras,

O pensamento, a verdade e a mentira.

Acorrentados estão.

Aqui, além, pelo mundo...

Onde estão os rostos? Onde estão as almas viventes?

Não há rastros pelo chão.

Não há lembranças.

Não há testamento.

Não há testemunho.

A descendência esqueceu...

Contra as garras da ignorância,

Arrebentando nossa aflição,

Choramos este mistério

Que ordena vidas e mundos.

Polos de ruínas e exaltação.

Tetos de vidro.

Vida sem emoção.

Quantos anos já se passaram,

Espelho da ilusão?

Por que insiste em alimentar minha desilusão?

O corpo está gasto,

A saudade é sempre maior?

Quem sou eu? Quem, que não conheço?

Já não me encontro.

Onde estou?

Voltarão meus passos?

Ou dessas masmorras profundas

Não se volta jamais?

Depois?

Que valor terá para mim?

Apenas pó, tristeza, saudade...

Ambição gera injustiça.

Injustiça é mãe da covardia,

Dos heróis martirizados.

Nada se lembra além de sua agonia.

Por horror ao sofrimento,

Ao valor se renuncia,

A justiça se suicida.

Quantas gerações opressas e opressoras

Não nasceram à luz destes exemplos?

Quem nunca matou um sonho?

Quantos mistérios, esforços, sacrifícios

Não morreram sufocados?

Alguém confia nos amigos?

Quem ainda acredita em promessas?

Ninguém acredita em ninguém.

Que tempos medonhos vividos.

Quem há de saber no futuro

O que é certo ou errado?

Como reconstituir esta nova humanidade?

Quanto sangue será necessário

Para o renascimento social?

Pois só assim as mudanças ocorreram.

Minha dor é só comigo.

Porém, tudo é covardia.

Ai, que prisão sombria.

Se preso estais, ver-me preso também.

Sonharei com o degredo afinal,

Por fraqueza, por medo, por solidão...

Por cansaço de viver.

Sonhar, sem sair do lugar.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 27/03/2015
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