Criança grande
Como conjugar espanador e martelo,
Pares idênticos é a bíblica norma;
A bela e a fera num andar paralelo,
Digo; engatar assim no mesmo elo,
Gravidade do teor e leveza da forma...
Um quê de senhor e outro de escravo,
Eis o poeta oscilando do céu ao inferno;
Desde Camões, Pessoa, mesmo, Olavo;
estilos diversos, tem o camuflado bravo,
que oculta sua espada sob disfarce terno...
Vero “Endurecer-se sem perder a ternura”!
Frase surrada que atribuem ao Guevara;
Esse profeta que vaticina a sorte mais dura,
Sua luz desvenda o final da vereda escura,
E faz com doçura; conhece a sorte amara...
Mas, se decide martelar pedras da hipocrisia,
Sai de baixo, pois, é mui pesado o seu malho;
Ternura vai pra rede e labora sua valentia,
Não sopra brisa onde carece uma ventania,
Depois que encerra a liça, só resta cascalho...
Quantos dizem ter sua criança inda interna,
Mas, ao menor teste esses traços somem;
O poeta nem diz isso, seu labor a externa,
Quem resiste ao encanto de face tão terna?
O encanto poético; jeito infantil de ser homem...