Breve reflexão de mim
Não sei quantos eu tenho em mim.
A cada momento, mudei.
A cada espaço de tempo vivido, mudo.
Continuamente me estranho.
Neste tempo escorregadio,
Perco-me em devaneios e ilusões.
Ainda não me vi e nem me achei.
De tanto ser outros, restou-me apenas um eu.
Um eu manco e fraco.
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me outro e não eu.
Cada sonho ou desejo
Não é genuinamente meu.
Nasce do outrem que habita em mim.
Ser forte é o que preciso ser.
Porém, ser fraco é o que sei ser.
Sou a minha própria paisagem.
Assisto a minha passagem,
Pois história é o que somos.
Temos a sensação que o tempo passa,
Mas somos nós que passamos.
A minha passagem pelo mundo
É débil, móbil e só.
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio ao mundo,
Sento-me em meio as memórias fósseis.
E vou lendo como páginas, meu ser.
História escrita por mim.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer,
O que deixou de viver.