Escalada

Essa sina sisuda, feijão com arroz,

Onde bem poderia ter sido caviar;

Parece que algo ruim nos indispôs

ficamos estranhos em nosso lugar;

muitos adeuses que se nos impôs,

e forçados só nos restou os aceitar...

afinal quimeras que o sonho propôs,

a quem cabe o ônus de realizar?

Os fatos são graves como chefe inca,

E com eles o sonho não tira farinha;

Pois, nem todo o ovo incubado trinca,

Mesmo ao constante calor da galinha;

Os legos com que a carência brinca,

montam uns castelos de mentirinha;

cada dardo que a desdita nos finca,

lembra que, pra hoje, era o que tinha...

a ilusão meio fútil impulsiona a subida,

quiçá, é para esse mísero fim que veio?

Sem os sonhos paralisaríamos na lida,

Muitos desistiriam bem antes do meio;

Presto empreenderiam sua descida,

A pecha de covardes nem seria feio;

Pois ninguém escala o Everest da vida,

Sem apoiar-se na corda do devaneio...