APLAUSOS PARA O PERDÃO
Brilhei nobreza ao doar perdão
para o sujeito que abriu-me a cara
com chute e murro dos ódios crus,
cravando chaga de humilhação.
Eu todo altivo emanei polido
a fala canto de santo ser:
Eu te perdoo, que és meu igual,
não é por mim que serás punido.
Mas não senti o esperado alívio
de quem perdoa a emoções e nervos,
somente o ópio que flui do aplauso
dos que passeiam no meu convívio.
Então num ato em magia estranha
me foi clareado o que acontecia:
Eu mergulhei na nudez virgínea
do mais oculto de minha entranha...
E vi – que feio desejo, aquele –
meu lábio atado no tal sujeito
e arreganhei, na sequência, os dentes
ainda sujos do sangue dele.