A carga

Lá vai a doida da minha vizinha,

Com lata vazia e muita sede;

Seu pés não param na bainha,

Curtos como o voo da galinha,

Mas, têm na rua a sua rede...

Falar doidices é seu brinquedo,

Afinal traz na língua essa libido;

Aí ela circula desde bem cedo,

A quietude assusta, mete medo,

busca amparo num par de ouvidos...

O meu silêncio olha displicente,

esforçando um pouco de empatia;

esse condenado sempre inocente,

que será executado de repente,

com o anúncio voraz de porcarias...

ah, a alma humana e seus pruridos,

que recusa sempre a receita amarga;

de prender palavras e soltar ouvidos,

abre sempre cadeados invertidos,

e perambula presa ao peso da carga...