VARIAÇÕES SOBRE UMA MESMA FACE

FACE UM - A ESCRITA

Da escrita obtenho parte daquilo que sou, escrevendo o que procuro ter

Na escrita tenho parte daquilo que elevou, escrevendo o que procuro escrever

Para escrita venho parte daquilo que sobrou, escrevendo o que procuro reter

Em escrita retenho parte daquilo que embrenhou, escrevendo o que procuro prover

Por escrita provenho parte daquilo que medrou, escrevendo o que procuro abster

À escrita abstenho parte daquilo que findou, escrevendo o que procuro conter

De escrita contenho parte daquilo que vingou, escrevendo o que procuro obter

FACE DOIS - A LÁGRIMA

Da lágrima fez se força, arrebanhou coragem e destreza e seguiu em frente.

Na lágrima fez se mulher, inspirou aragem e estranheza e seguiu na frente.

Para lágrima fez se vitória, culminou reciclagem e beleza, e seguiu para frente.

Em lágrima fez se memória, reavivou molecagem e realeza, e seguiu em frente.

Por lágrima fez se rios, represou estiagem e fortaleza, e seguiu por frente.

À lágrima fez se estradas, inundou linguagem e torpeza, e seguiu à frente.

De lágrima fez se flexível, arbitrou mensagem e gentileza, e seguiu de frente.

FACE TRÊS - A LEMBRANÇA

Da lembrança, a aliança que atou sonhos e pesadelos sem não mais se findar.

Na lembrança, a criança que findou medos e anseios sem não mais se calar.

Para lembrança, a esperança que calou modos e meios sem não mais se quebrar.

Em lembrança, a herança que quebrou muros e grades sem não mais se alienar.

Por lembrança, a confiança que alienou formas e fatos sem não mais se usurpar.

À lembrança, a cobrança que usurpou quedas e pedras sem não mais se vociferar.

De lembrança, a andança que vociferou urros e murros sem não mais se atar.

FACE QUATRO - O REFLEXO

Do reflexo da alma ocupa-se a religião que molda acordo mundano com o divino.

No reflexo da face ocupa-se a criação que molda o acordo paisano com o menino.

Para reflexo da morte ocupa-se a emoção que molda o acordo insano com o paladino.

Em reflexo da sorte ocupa-se a compaixão que molda o acordo puritano com o peregrino.

Por reflexo da mente ocupa-se a reflexão que molda o acordo provinciano com o ladino.

À reflexo da estrada ocupa-se a punição que molda o acordo megalômano com o cabotino.

De reflexo da pessoa ocupa-se a dedução que molda o acordo humano com o ensino.

FACE CINCO - A MEMÓRIA

Da memória o que resta é a réstia de luz por entre olhares ancestrais seculares.

Na memória o que presta é a forma da luz por entre fazeres ancestrais moleculares.

Para memória o que empresta é a clareza da luz por entre dizeres ancestrais similares.

Em memória o que atesta é a força da luz por entre poderes ancestrais protocolares.

Por memória o que contesta é a lembrança da luz por entre fazeres ancestrais regulares.

À memória o que detesta é a carência da luz por entre quereres ancestrais invulgares.

De memória o que protesta é a fluência da luz por entre seres ancestrais irregulares.

FACE SEIS - A CONEXÃO

Da conexão humana herda-se com crudeza o instinto que refina-se com o tempo.

Na conexão puritana perde-se com estupideza o destinto que mofina-se com o tempo.

Para conexão mundana deixa-se com malvadeza o plinto que abomina-se com o tempo.

Em conexão espartana tolhe-se com rudeza o recinto que afina-se com o tempo.

Por conexão leviana ata-se com destreza 0 lavarinto que libertina-se com o tempo.

À conexão tirana fala-se com avareza o retinto que disciplina-se com o tempo.

De conexão ufana cala-se com firmeza o recinto que doutrina-se-se com o tempo.

FACE SETE - A MÁSCARA

Da máscara olho e vejo o que não mais se quer ver por estarmos surdos da mente.

Na máscara recolho e sinto o que não mais se quer sentir por estarmos anestesiados na fronte.

Para máscara embrolho e ouço o que não mais se quer ouvir por estarmos surdos para tudo.

Em máscara espelho e falo o que não mais se quer falar por estarmos mudos em vida.

Por máscara encolho e calo o que não mais se quer calar por estarmos falantes por demasia.

À máscara escolho e sigo o que não mais se quer seguir por estarmos parados à deriva.

De máscara recolho e mudo o que não mais se que mudar por estarmos estático de ação.

Roberta Lessa
Enviado por Roberta Lessa em 23/01/2015
Código do texto: T5111147
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