Bússola

Como se eu morresse em dois dias,

me sinto ávido de fazer o que ainda não fiz;

de perceber integralmente a realidade,

de sugar do mundo em estado de fruta

toda a essência do Belo.

Perplexo.

Diante de mim,

a gente é empurrada pela rotina

pelas calçadas, entre cubos de concreto e vidro.

Todas têm um destino próprio dentro de si,

sabem exatamente onde têm de ir.

Não eu.

De braços como pêndulos,

uma profusão de vontades

pesa-me sobre os ombros;

muito em mim ainda está pendente,

e não sei por onde começar.

Elas passam —

fluxo do cotidiano.

Olho para isso tudo. Há ali,

entretanto,

entre todos,

agachado como um empecilho

da exceção, que obstrui

a fluidez do dia a dia,

um homem e seu cachimbo.

Devo reparar nele?

Como a fumaça,

estou pleno do acaso.

As pessoas entram

e saem,

andam e

correm,

têm pressa de chegar.

Mas eu não conheço meu destino,

meu ponto de chegada.

Mas há mesmo uma chegada?

É mister haver um destino?

Não tenho uma bússola

e estou perdido.

Perdido sem nem mesmo ter um lugar de que se perder.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 19/01/2015
Reeditado em 10/07/2015
Código do texto: T5106991
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