CAMINHAR

Já pensastes em caminhar

sobre as águas de um riacho?

Seus pés tocariam algo leve e límpido

como a areia virgem das praias inabitadas,

suas mãos tocariam a vegetação delicada

como as que habitam as margens dos riachos,

seus olhos se encantariam com tantos verdes,

seu olfato seria embebecido por diversos aromas,

seus ouvidos ouviriam acordes de pássaros,

seu paladar experimentaria sabores silvestres.

Só você e seus amores!

Cai na real!

Seu caminhar de fato é

sobre o negro asfalto sem fé.

Seus pés tocam a liga de petróleo dura

tal qual a liga plástica industrializada,

suas mãos tocam a argamassa dura do concreto

como as dos prédios abandonados e decadentes,

seus olhos ficam opacos diante a monocromia da vida,

seu olfato é invadido por um inigualável fedor químico,

seu paladar abduzido eternamente por fest food.

Só você e seus amores!

Tenho inveja, dos que caminham sobre riachos.

Não entendo, os que optam pelo asfalto.

Tenho pena, dos que não podem sonhar.

No entanto, o riacho ainda está lá.