Cântico de Outono
Quando a insanidade turva os olhos
E se encurva sobre as minhas linhas,
Quando as luzes se esvaem
E os meus sonhos perdem a graça,
Eu tenho o hábito de fugir dos problemas
Me escondendo
Nas fragilidades do mundo...
Procuro me aconchegar na varanda
(Minha velha amiga/ouvinte de longos silêncios)
Onde acendo um cigarro e fico ali, conversando
Com as fragilidades que moram dentro de cada um...
Sabe. Daqui é fácil encontrar as respostas que eu procuro.
A noite é gelada pra todos lá embaixo
E saber disso me aquece um pouco...
A fenda que o tempo abre entre os tempos
Renova as engrenagens conceituadas da minha alma;
Me fazendo enxergar
Nessa minha existência medíocre
Uma perspectiva confortável diante das minhas asas...
Os olhos pesados de cada um
Compondo valsas com os seus passos largos
Revelam a primavera morta de suas vidas sem néctar...
Até parecem competir
Meio que num espetáculo de angústias:
Sobre quem tem a sombra mais conjunta aos horrores da humanidade:
O conhecimento ganho
Aos feitos da corrida de suas vidas
Em busca de lembranças pra recordarem pós à morte.
Lembro-me das primeiras vezes que me atirei ao mundo;
Era tão puro, tão jovem
Tão
Idiota...
Com a alma virgem oferecida ao universo,
Eu seguia procurando conquistar
Os olhos fortes de toda aquela gente grande...
Eu e mais 2 amigos
Competíamos sobre quais seriam os mais felizes,
Sobre quais sairiam mais ilesos do jogo da vida
Distante de todo o escarcéu
Subíamos às colinas do campo ao norte
E ficávamos ali,
Estirados
Odiando as nossas vidas
Pensando:
No que poderíamos ser
No que poderíamos ser...
Quando depois no fim da tarde
Voltávamos pras nossas casas
Onde esperávamos os próximos dias virem
Trazendo com eles nossas glórias intactas
Sabe. Ninguém sonha com as partes chatas,
Mas a verdade é que viveremos nelas.
Devíamos aprender isso desde cedo
Mas fugir de algo que já temos
Faz parte da nossa natureza.
A 6 anos atrás o Pedro se casou e teve uma linda filha.
Se divorciou no meio do mês passado.
O Antônio, não conseguiu ser astronauta.
Foi procurar as estrelas em outro lugar.
Quanto a mim...
Conquistei o meu tão sonhado apartamento
E junto dele, os olhos negros que tanto cobicei...
Que agora uso pra alimentar as fendas
Com as incertezas mortas de minha vida passada...
Que merda de vida eu escolhi pra mim...
Mas por aqui eu me sinto bem...
...Dou um jeito de sobreviver com os meus sonhos.
- Berserker Heart