Contemplação das Complexidades.

Andei por essas ruas.

Caminhei sobre suas calçadas.

Contemplei a vossa praça.

Senti o silêncio da noite.

Vi o brilho das estrelas.

Auscultei os cantos dos pássaros.

Percebi o tempo caminhando.

Com a velocidade das nuvens.

Enxerguei o céu.

Ao mesmo tempo escuro e claro.

Os anos passaram.

Os dias se extinguiram.

Mas a lembrança ficou.

Das vezes que levantava cedinho.

Tomava café.

Feliz ia até a escola.

Ao grupo Santo Antonio.

Aprender a lidar com as letrinhas.

Mas não sonhava entender.

Os sistemas filosóficos.

A diferença de Aristóteles com Platão.

Memórias múltiplas.

E universos contínuos.

Muito menos o princípio da incausalidade.

Fundamento da Física.

Criado por mim.

Para explicar a origem do mundo.

Não imaginava compreender.

A Biologia evolucionista.

A comparação da teoria clássica.

Com a teoria sintética.

Entender os principais segredos.

Que assustam o mundo contemporâneo.

Quando caminhava por essas ruas.

Não imaginava que alma fosse apenas.

Representação da linguagem.

Não sabia que o DNA do homem.

Fosse exatamente igual de um chimpanzé.

Quando contemplava a vossa praça.

Jamais poderia imaginar.

Que o hidrogênio do sol.

Fosse um dia exaurir.

Que esse fenômeno destruirá nossa galáxia.

Como poderia pensar.

Na existência de vários sóis.

Compondo a realidade de hidrogênio.

Dos intermináveis mundos contínuos.

Que tudo isso um dia acaba.

O infinito volta ficar vazio escuro e frio.

Constituindo em sua essência o nada.

Quando a temperatura negativa.

Produzir bilhões e bilhões de toneladas de gelo.

Reconstruindo a matéria.

Que os mundos morrem e retornam eternamente.

Por um princípio sem causa.

Sendo que esse referido fenômeno é interminável.

Quando caminhava por essas ruas.

Às vezes solitariamente ao amanhecer.

Em direção à escola.

Recordo-me.

Dos professores truculentos imaginando sábios.

De alguns poucos colegas e colegas.

Que restaram a minha memória.

Quanto a mim.

Sei que não fiquei na imaginação de nenhum deles.

Era indiferente.

Precisava apenas das letras.

Não tanto das ideias.

Salas e salas.

Itapagipe.

Campina verde.

Belo Horizonte.

Universidade Católica de Minas Gerais.

Universidade Federal.

Convento do Caraça.

Padres lazaristas.

Faculdade de Teologia de Petrópolis.

Rio de Janeiro.

São Paulo.

Bacharel em Teologia.

Com avaliação máxima.

Exame univera.

Antes as licenciaturas.

Filosofia pura.

Psicologia e História.

Durante anos e anos.

Estudando de dez a doze horas por dia.

Estudando grego, latim, aramaico e alemão.

Entre outros idiomas.

Li mais de quatro mil obras clássicas.

Da melhor literatura do mundo.

Produzida por verdadeiros gênios.

França, Alemanha, Inglaterra.

Às vezes também a Itália.

Com o único objetivo.

Descobrir a origem do mundo.

Como surgiu o átomo mater.

E por que todas as formas de vida.

Remontam a uma célula mater.

Tudo que existe é interligado.

Ao mesmo fundamento.

A materialidade das coisas.

Sendo que as complexidades.

Tem em sua essência a mesma natureza.

Após entender tudo isso.

Confesso que compensou.

Caminhar solitariamente pelas ruas da vossa cidade.

Contemplar a praça.

E ouvir o silêncio do tempo passando.

As estrelas brilhando com a mesma intensidade.

As infindáveis madrugadas.

Dos instantes que não puderam sequer reiniciar.

Já o princípio do fim.

Itapagipe, Itapagipe, Itapagipe.

Edjar Dias de Vasconcelos.

Edjar Dias de Vasconcelos
Enviado por Edjar Dias de Vasconcelos em 24/12/2014
Reeditado em 07/01/2015
Código do texto: T5079907
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