O TEMPO E SUAS VARREDURAS
Só o tempo repõe e faz passar
Tudo que de mágoa ficou
Em espaços repletos de lembranças,
Um punhado de sujeira e de tolices,
Que nem o choro dilacera,
Apunhalando corações
E espremendo mentes,
Sufocando o ser em amarguras,
Imperando o ódio e a tristeza.
O tempo que faz a varredura da vida,
Espalha pelo limbo, cinzas dos remorsos,
Sempre com uma nova clareza e realidade.
Sejamos escravos do tempo a fim de sermos
Livres de nós e alforriados do passado.
Então não haverá mais tristeza nem ódio
E o choro escorrerá noutro rumo,
Da alegria de um novo encontro, de uma nova situação.
Tempo que varre
Tempo que limpa
Tempo que encobre
Tempo que pinta
Tempo que acaba
Tempo que mente
Tempo que começa
Tempo que sente
Tempo sem tempo
Tempo sem começo
Tempo sem fim
Tempo sem endereço.
Enfim, não sei em que tempo estou,
Se vou tê-lo ou não me dará tempo.
Só sei que do tempo quero tempo,
Para fazer tudo a tempo,
Sem perder tempo,
Pois já não era sem tempo.
Imagine! O tempo que perco falando do tempo,
Dizendo que ele varre a todo o tempo,
Nossa vida o tempo todo.