O trabalho da alma

Nessa mormacenta tarde de sábado;

A brisa ameniza muito o peso da calma,

A solitude aperta bem mais seu látego,

corpo fica diminuto aos apelos d’alma...

maturidade redime, anseio recrudesce;

esse contraponto faz a sorte agridoce,

a contínua solicitude que não apetece,

a eterna dívida que o Fado me trouxe...

não anuncia ela, só agradece pelas flores,

o beija flor que adentra à minha janela;

se para mim apetece o mosaico de cores,

pra ele é pão, entre ornatos, a mesa bela...

viramos, conforme do relógio o avanço;

cada hora a vir é como carta de baralho,

quem criou o sábado mirou o descanso,

quem, o desamor, só quis dar trabalho...

com diligência, denodo, a mão na massa

o trabalho da alma não podemos fazer;

é ver passar a uma banda que não passa,

trapaça da sina, sem frutos apenas sofrer...

Então a poesia socorre com algum tato,

Domando desprazer ensina ser manso;

Dizendo que se não posso negar o fato,

siga dando duro, em cadeira de balanço...