Inexistência da imaginação.
Nesse momento dispenso ideologias.
Todas: políticas.
Religiosas.
Metafísicas.
Dispenso a misericórdia dos deuses.
Até porque os deuses são fantasias.
Quanto a mim.
Ao que se refere a minha essência.
Biologicamente não tenho diferença.
De um chimpanzé.
Tenho até o mesmo DNA.
A única diferença possível.
É que tenho linguagem.
Submeto igual a ele.
As leis da natureza.
Quanto ao chimpanzé.
Tenho uma grande desvantagem.
Ele não tem que sujeitar as regras do Estado.
De um Estado político elaborado.
Por regras ideológicas.
Com o único objetivo.
Favorecer a classe dominante economicamente.
Quanto ao chimpanzé.
Teria outra vantagem possivelmente.
Vive a vida natural.
Sem complexo de culpa.
Sem ter que ser inferior ou superior.
A outro macaco da sua espécie.
Obedece ao instinto.
Não precisa ter receio de forças.
Superiores.
Também não sabe.
Entender o que é ser um chimpanzé.
Entretanto, o homem não sabe o significado.
De ser homem.
Sorte do chimpanzé.
Maldita evolução de um elo primata.
Quanto a mim.
Tenho que imaginar mil bobagens.
Mas como superei as ideologias.
Construi apenas uma vida racional.
Crítica.
Portanto, sei que a minha natureza última.
É inexistente.
Apesar de todas essas diferenças.
Sou tão igual a um chimpanzé.
Sem alma.
Sem céu.
Sem Deus.
Descrente do Estado.
Da sociedade civil.
Vivo um mundo sem ilusão.
Quanto ao meu futuro.
Após a passagem dessa vida.
Serei inferior à imaginação de um fluido.
Isso porque só poderei ser.
A mais absoluta negação.
Significando a minha não existência.
Que bom que não existe deus.
Que maravilha não ter alma.
Que magnífico não existir o inferno.
Que encantamento.
A morte significar-se tão somente.
O desaparecimento.
Como se nunca antes tivesse existido.
Em relação ao futuro.
Serei como foi sempre no passado.
A mais absoluta inexistência.
Portanto, nesse breve presente.
Viverei tranquilo.
Por saber apesar de estar aqui.
A minha vida real.
É a sua permanente inexistência.
Tive uma imensa sorte de poder compreender.
A magnitude desse fenômeno.
E enquanto existir viverei em paz.
Posteriormente desaparecer-me-ei.
Eternamente.
Sem ser sequer a imaginação.
Do que poderia ter sido o mundo.
O mais profundo sono.
Para eternidade do desaparecimento.
Poesia escrita pelo professor: Edjar Dias de Vasconcelos.