NUNCA É TARDE
NUNCA É TARDE
Agora velho
Começo a tentar compreender a vida
A descobrir seus encantos, desencantos
Cantos, frestas, pedaços
Fracassos crassos
Recados, mensagens,
Passagens, viagens
Sonhos, pesadelos
A entender os outros
Sem esperar que te entendam
A viver um dia por vez
A entender que a tez
É apenas cobertura
E que a cereja enfeita o bolo
Mas o recheio é que é gostoso
E que os sabores são muitos
Doces, amargos, azedos, insossos
E que há ossos
Duros de roer
E que gostos são distintos
E vinhos não são apenas tintos
Secos qual sangue coagulado
Podem ser rosés, brancos
Suaves, leves
Ou transformarem-se em vinagres
E que amores podem ser muitos
E diferentes em gênero e grau
E afinal são tantas as nuances
Que certamente não haverá tempo
De desvendar tantos mistérios
Tantos critérios, cômicos ou sérios
E seria um despautério
Querer entender os desígnios de Deus
E que Ele, só Ele
Os tem
E não eu, mero passageiro
Desta aventura ligeira
E inimaginável
Sempre um quem sabe