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QUE EU NÃO LEVE


Que a mentira não esteja gravada em minha lápide,
Que não seja de ódio a minha última palavra,
E mesmo que eu resvale entre as dores da morte,
Que eu possa lavar, no silêncio, meus cortes.
 
Que eu não deixe, trancados, os vãos das minhas portas,
Que eu não leve comigo as correntes que prendem
As palavras malditas às palavras caladas,
Que eu não saia daqui sem saber que sou nada.
 
Que a minha partida seja assim percebida:
Como algo casual, como algo da vida,
Que não haja mais dramas do que o necessário;
Quando é vera a saudade, em silêncio ela fica.
 
Que me seja poupada a vergonha de ter
Nas minhas últimas páginas, deixado escorrer
Só o ódio, o veneno, a mentira e o fel,
Pois que é necessário ter honra ao morrer.
 
Sei que ser esquecido é o destino de todos,
Mesmo assim, eu não quero apodrecer em vida,
Que eu não deixe aqui qualquer mal entendido,
Que eu só me decomponha após ter morrido.


Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 03/12/2014
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