Quilômetros Azuis

Aqui em minha frente,

na frente do meu descanso,

vejo esse antebraço mas,

me salta aos olhos tão estranho

- em posição de queda-de-braço

- parece ter barriga d’água – não me ocorreu antes,

que fossem tão longas estas veias, silenciosas,

quilômetros de azul por sob esta pele (em mutação constante).

Agora encaro a epiderme com muita atenção,

aquela que não disperso aos transeuntes,

agora vai aos poros, um tanto manchados,

friso a testa com a expressão carrancuda

pois nunca havia reparado tal exclusão,

cemitério de células. Peço licença à tatuagem,

que mora sobre o tépido músculo, tranqüila.

Jogo os olhos sobre os pêlos

e me sinto acuado na árida paisagem.

O sentimento nu e perdido.

Nunca estive aqui.

Nunca estive em mim. Por onde ando?

Tenho manchas pelo corpo, pedaços de madrugada.

Não venta mais pela penugem delgada que se esfacela,

a ainda assim se atropelam até o abismo do corpo.

Há quanto tempo não vejo meu sangue,

que me pergunto por onde ele anda,

nunca mais voltou à maçã do rosto

mas sei que ele ainda vagabundeia,

por quilômetros de estradas azuis.

Ele vai onde eu não vou

e corre amargo em meu sorriso,

descansa em meu pensamento

como que rodaste o mundo.

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 20/11/2014
Código do texto: T5042340
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