O MALTRAPILHO

O sol não vai tardar seu regresso.

Enquanto eu cumpria minha rotineira sobrevivência no trabalho,

Ele foi cumprir sua extensa jornada a cerca do mundo.

(Com muito mais paradas para cafés e almoços que eu, diga-se de passagem)

São assim minhas noites,

Acomodado e refém

De uma escravidão mascaradamente remunerada.

No retorno pra casa, observo o silêncio de uma cidade fantasma

E me confundo com a calçada, pois

Bem acomodado no fundo do ônibus, sinto-me tão inerte quanto.

E, enquanto, do vazio,

Fantasio e anseio a maciez do meu leito,

Detenho-me com um quadro

Rapidamente emoldurado pela janela por onde entrevejo.

Uma figura estranha, um maltrapilho, talvez andarilho,

Que, devido ao estrépito do motor

Despertou-se do seu inaudito mundo dos sonhos.

E, por uma fração de segundos,

Fitou-me com seus olhos enferrujados pelo tempo

Por tempo suficiente para que eu externasse toda a minha superficialidade

E ele toda a sua profundeza.

Ele,

Um homem pobre.

Eu,

Um pobre homem.

Douglas Roots
Enviado por Douglas Roots em 18/11/2014
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