ANTROPOFÓBICO
Habitamos um mundo estranho
Com gente esquisita
Onde não se divide o ganho
E a hipocrisia corrói como um parasita.
A cor da pele, mero detalhe
Mesmo depois de séculos
Continua a ser fonte de retalho
Mesmo sabendo que todos somos
Frutos das cores que fomos.
A pureza é utópica
Grande parte da "humanidade" é
Homofóbica, xenofóbica, antropofóbica
fóbica
Somos misturas preparadas lentamente
De anos e anos e milênios
Estúpidos gênios
Rastejando vagarosamente
Como lesmas
Mas não tão sabiamente
Como as mesmas.
Veja só, somos únicos
Que beleza!
Show de racionalidade
Ou seria brutalidade?
Debilidade
Matamos nossa própria espécie
Assassinamos a natureza
Que nos pariu
Que proeza!
Se isto é ser racional
Então eu devo ser anormal
Racional é o amor dos animais
Que prezo demais.
Veja só quanta fartura
de carne, fruta e verdura!
Para mim isso é loucura!
O homem produz a mais
E depois manda tudo para
O lixo
Cultura do desperdício
Do luxo
Vício
Lento suicídio
Cultura do agrotóxico
Que se disfarça da fruta bela
Da verdura que brilha
No jantar à luz de vela
Futura sequela.
A comida está em todo lugar
Basta se levantar, ir no mercado
E comprar, comprar, comprar
Nesta facilidade, olvida-se
Do trabalho que era caçar e plantar
Do valor, da riqueza do alimentar
Faz pouco
Do que come
Esquece
De quem passa fome
É só sentar a bunda
Em um restaurante
E a refeição vem pronta num instante
E a sobra?
Quem cobra?
Cotidiano imediatista
Prazer momentâneo
A paciência está fora da vista
A moda é resultado instantâneo
Fábrica de ansiedade
Ser humano padrão
Na terra da informação
Televisão é rei.
Hipocrisia à solta
O cristão que mata o gato
Os ladrões de terno
O cidadão que paga o pato
O sofrimento eterno
A queimada no mato
Um calor do inferno
Beatificação dos homicidas
Governo alheio
Às milhões de vidas perdidas.
A voz que pede melhoria
É a mesma que joga lata pela porta do carro
O povo que reclama
Nem levanta da cama
O povo que xinga
Passa o dia bebendo pinga
A boca que clama
Nada faz para sair da lama
Questiona por que não muda
Mas é o primeiro que julga
Reza por todos os seres
Mas esquece dos próprios deveres.
O homem se faz de surdo
Pois cego ele já é
Caminha descalço
Esperando um prego no pé
A natureza avisa
Porém o homem nela pisa
A árvore corta
O rio esvazia
Sociedade vazia
Humanidade morta.
O ser humano é falho
Claro
Mas a estupidez não se mede
E a ignorância fede.
Muita gente tem medo do escuro
De fantasma, do futuro
Ora, alma não faz mal a ninguém
Já o homem...