Alma, correndo pelada

Quando a mente é página em branco,

o banco da memória foi à bancarrota;

brotam inquietação filhas do hábito,

débito de criatividade , no vermelho...

todos os temas soam como repisados,

dados idos lançados em arquivo morto;

o torto desejo de escrever de súbito,

a nítida vaidade privada de espelho...

Palavras se apresentam voluntárias,

Párias, mas, a pretensão de nobres;

Pobres poetas de aura assim presa,

A mesa posta só com panelas vazias;

A alma lida mal com as intempéries,

Séries, arquivos ou, mesmo, sistemas;

Apenas precisa ser livre para voar,

Sobre o vale onde pastam poesias...

Nos encaixes geométricos do artifício,

Sacrifício demandado, até faz talvez;

Três ou quatro sapatos apertados,

Machado disse, o prazer é descalçar;

Prefere ser nua se, vera arte persegue,

Porto Alegre figura-a, com suas peladas;

Cada veste que abre mão nos destapa,

O mapa de seu tesouro, a liberdade...