A Vida é Frágil
A minha vida e a chama da vela
dançando ritmos, frágeis ao sopro.
Eu nem lembrava da delicadeza de existir.
Estou há tempos tentando colar palavras
que digam algo qualquer sobre a cena.
Ela espetou minha memória, ela me lembra; a vida é frágil.
Aprendi um dia.
Ela me alerta; a vida é frágil. Daí esqueço.
Não só porque esquecer é do meu hábito
(falta de fósforo ou relapso?), não por maldade.
Eu esqueço pra não doer a fragilidade
de tudo e nada que sou.
A vida é frágil, eu sei, mas não me lembre na sexta-feira.
Talvez de vez em quando, quando preciso for, às vezes sempre, é.
Mas querida alquimista a quem escrevo
e às vezes endereço cartas escritas a punho,
punho, mãos e dedos de carbono, cálcio e dilema.
Você sabe, não vejo problema
em ser tanta água, até enxofre e mágoa.
Dói é a consciência, se ainda eu não soubesse ser tão frágil,
nada fácil pra quem é finito e efêmero.
A vida é frágil... Demais! Por fim, não me lembre.
* à amiga de Campinas-SP, Raquel Massulo de Souza