O RETRATO FALADO
Suspeito visto pelas redondezas:
era mais feio que a fome;
cabeça de bagre
com um tremendo olho gordo
e outro olho de peixe morto
repletos de pés de galinha em volta deles.
Tinha uma boca de lobo
uma língua afiada
com u bafo de onça
e dentes de alho
num sorriso amarelo
e a barba era azul.
A orelha de caderno de aluno relaxado
e o ouvido de mercador
nariz de palhaço, empinado
numa cara de pau.
Tinha carne de pescoço
e os peitos caídos
com um coração de pedra
e o estômago de avestruz.
No fim do braço de ferro
com dor de cotovelo
além do pulso telefônico
o mão de vaca tinha o dedo-duro
e a unha de fome.
Ninguém chorava em seus ombros
Era doente, um morto-vivo
tinha um bico de papagaio
e uma hérnia de disco
e olho de peixe nos seus pés de pato.
Tinha a cintura fina
mas era um saco de pancada,
Às vezes, parecia um pinto molhado
tinha as coxas bambas
uma perna de pau
e um frágil calcanhar de Aquiles
tinha um pé de chinelo
e o outro era um pé de cana.
Sentia dores na batata da perna
(para ele, panturrilha era bebida mexicana).
Coitado, era uma coisa sem pé nem cabeça;
Além de tudo, era um verdadeiro espírito de porco
louco por um rabo de saia.
Dava um boi para não entrar numa briga
e uma boiada para não sair dela
pois adorava dar murros em pontas de faca.