Solidão da Praia
O dia cai.
A noite invade meus pensamentos.
A lua surge imponente
Clareando o oceano em púrpura.
Olho para o céu estrelado
E meus olhos cintilam, igualmente...
No delicioso frio,
Meus dentes tiritam,
Os lábios sentem arrepios
E meu corpo treme...
Meus cabelos esvoaçam,
Minhas mãos se cruzam,
A consciência matuta...
Sou levado a muitas milhas
Que se perderam no tempo
E percebo a face úmida
Pela saudade de ontem...
Encaro as nuvens,
Nelas desenho com a mente
Facetas de felicidade,
Enredos inebriantes,
Episódios surripiados
Por hediondas horas
Que são madrastas
E chicoteiam recordações...
Os ventos tramam,
Mortalhas rasgam a escuridão
E me permito seduzir-me
Pelo cheiro das ondas
Que se partem nas pedras
Onde sentado estou
A contemplar meu destino...
No espelho das espumas
Enxergo luzes distantes
Que me convidam a sorrir...
Não posso!
Que venha a madrugada
A cochichar-me seus horrores
Neste templo de solidão...
Noto transformação
E gotas d’água desabam
Sobre minha cabeça...
O céu se fecha,
A cortina tapa minha visão,
Então me deixo despencar
Na areia... E adormeço
Diante de mim
E perante um mundo
Que me desconhece...
Jogado ao relento,
Sonho no tapete
De um litoral imberbe
E de uma vida vivenciada
Por ideais apócrifos...
Amanhece...
No dia lindo, sim,
Sorrio para a imagem
Que se fez em mim
E que me torna príncipe
De uma natureza cúmplice
Do meu oportunismo!