Meditação

Meu mar secou,

As ondas sumiram,

A areia mudou de cor,

O vento sopra inverso...

Procuro pelas gaivotas

Num céu híbrido, incolor...

Escuto músicas sem notas,

São as palavras dos meus versos...

Deito o olhar sobre as nuvens,

Mas estão vazias, sem gotas d’água...

As árvores estão desnudas, só penugens

Então perambulo por caminhos incertos...

O sol quase se apaga... vejo sombras

Onde bronzeio o pensamento que chora

Pelo alimento que desce por sondas

Perante vidas que veem a morte de perto...

Sou vulto que anda sobre cascalhos

Ferindo os pés, mas sem sentir dor...

Existências camufladas em atalhos

Em becos que são enigmas perpétuos...

Pranteio na solidão que me desnutre

As vísceras duma saudade que é tenda

Onde dialogo perfume com os abutres

E durmo encaracolado em meu deserto...

Afinal a água romanceia o infinito

E meu mar ressurge bravio e límpido...

Na nova areia a espuma é o pito

Que estoura quando do sonho desperto!

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 17/10/2014
Código do texto: T5002748
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