Contrastes
Não sou mais aquele menino tímido, bobinho, que andava descalço pelos campos..., mas sinto falta de andar descalço. Não moro mais na roça onde cortava lenha, buscava água na cacimba, brincava nos riachos, cuidava dos animais, das aves, dos pássaros... e sinto falta disso também e me lembro, com saudades, desses momentos da minha vida.
Não faço mais carrinhos de madeira, nem de latas para brincar com os irmãos e com os amigos que moravam na vizinhança, nem corro mais nos campinhos de pelada da região, onde jogava bola nos finais de semana, e muitas vezes nos finais de tarde durante a semana! Não, não faço mais isso...! E porque não?
O tempo passou, eu cresci, mudei para a cidade; o capitalismo me obrigou a estudar, trabalhar, constituir família e a vida foi se tornando mais complexa, mais dura..., cruel, às vezes.
Antes, a vida andava a passos lentos; tinha tempo para brincar, pensar, curtir as belezas naturais do lugar, da região, divertir com os amigos, ficar com a família e tinha tempo de ser criança.
Não tinha luz elétrica nem televisão, apenas um rádio de pilha, mas acompanhava as notícias.
As estradas eram de cascalho, sem asfalto, carros eram para poucos, motos nem existia por lá, apenas algumas lambretas. Andava de jegue, cavalo, bicicleta... E olhe lá!
Hoje a maioria das estradas é asfaltada, carros velozes, motos e mais motos, internet, celulares, eletrodomésticos que “facilitam” a vida, “apressam” a vida e tudo fica mais “fácil” e também mais estressante. Ufa! Estressante isso!
Quase não tenho tempo nem para um almoço em família, é tudo muito rápido, tempo marcado, cronometrado... Mundo louco esse! Quero de volta o tempo da minha infância, lá na roça, onde tudo era mais bonito, mais calmo, mais harmonioso e mais gostoso de viver. Quero poder ouvir o canto dos pássaros às sombras das baraúnas, juazeiros, umburanas... Quero a vida tranquila de antes, quero “viver”...!