É de morte
A morte se camufla num doce,
Escondendo a sua sanha cruel;
Agrada armando como se fosse,
Só de bons intentos como Noel;
à menor chance fecha a rosca,
nos prendendo como a mosca,
que perece grudada ao mel...
também o fogo da curiosidade,
crepita vívido sobre suas brasas;
nas velharias encena a novidade,
dizendo profundas as águas rasas;
atrai incautos aos poucos pra ela,
qual mariposa circundando a vela,
acerca-se até queimarem suas asas...
Também se nos pega ao umbigo,
Nosso egoísmo se faz o seu porão;
Nos chama, livres, se presos consigo,
Pois furta a chave de nosso coração;
Que nem nota quanto é miserável,
Quando defende ao indefensável,
E assassina a uma valiosa relação...
Ainda se veste das belas palavras,
O hipócrita de bondade, se diz, rico;
E capricha nos filhos de sua lavra,
Empresta vestes sacras a um jerico;
Doente terminal encenando saúde,
Ante aos vastos lapsos da virtude,
O vício pretende preencher no bico...
Mas, houve uma incidência invertida,
Rasgo de inspiração que agora tive;
Quando em morte se disfarçou a Vida,
Jesus, eu acredito, yo creo, i believe;
Se deixou ser cruelmente crucificado,
apenas para nos separar do pecado,
que, enfim, é onde a morte vive...