Nobres servos

Cada gotícula de inspiração que sorvo,

Traz no gene parte do verso que sirvo;

Vivências d’outros que alhures observo,

Ou, filões das experiências que absorvo,

Poesia é quem impera, eu, mero servo...

Alma se inclina e me põe assim, absorto,

Pensando viveres virtuosos e os abjetos;

Esses nos ferem, amargos qual absinto,

Almas coisificadas como meros objetos,

Tendo apenas o egoísmo no epicentro...

Fico carente, como se, de mente obtusa

Cada dia em que de compor me abstenho,

alma prenhe de versos esperando obstetra;

Se descanso, ou ócio, ao trabalho objetam,

Arregaço mangas no tempo que obtenho...

Retornando aos versos me vejo mui lépido,

Não que bons, se possa criar, assim, rápido;

Não é prudente supor cálido o que é tépido,

Então, me policio contra esse viés estúpido,

Pra que o teor permeie meu arranjo estético...

Poucos entendem o poeta, um aluado animal,

Meio Ásia meio Europa, assim, como Istambul;

Um tanto de açúcar, e outro tantinho de sal,

Lua de sangue desfila em seu espaço sideral,

Entretanto, esses loucos têm seu sangue azul...