PROIBIDO

Proibido...

Deixar de iluminar da alma o canto,

Defender a tirania e a lei do homem,

Esvair a ilusão, fazer perder o encanto,

Mantendo vida às trevas que consomem.

Proibido...

Demorar-se alimentando o que não é belo,

Impedir a progressão da liberdade,

Ignorar da ternura o forte apelo

E destruir por orgulho a amizade.

Proibido...

Reter a vida que o amor produz

Consentindo que a paz vá se esgotando,

Fingir que não quer bem, calar-se, quando

Há tanto a se dizer, tanto a ser luz...

Proibido...

Ao grito de perdão não dar retorno

E persistir na ira submerso;

Ignorar o fluxo do universo

Que não tem mais lugar para o que é morno.

Proibido...

Negar uma palavra de alento,

Valorizar o que se diz magoado,

Deixar o sol se por sobre um tormento,

Permanecer em mágoa debruçado.

Proibido...

De uma dádiva inciso desdenhar,

Mendaz e insano desqualificar

Visando tão somente azucrinar

E não fazer questão de preservar.

Proibido...

Intervir no brio da criatividade,

Riscar a gentileza e a confiança;

Desistir de sonhar ser esperança,

Burlar o casto eflúvio da verdade.

Somente é permitido proibir

Que o homem venha a agir cruel, ferino,

E com sofreguidão passe a aplaudir

O erro, o mal amar, o desatino...

Eglê S Machado